Adalberto da Costa responde ao inquérito do MININT
Íntegra do discurso do Presidente da Bancada Parlamentar da UNITA
Caros Jornalistas,
Tendo acompanhado ontem a conferência de imprensa
efectuada por responsáveis do Ministério do Interior, ficamos com vontade de
colocar algumas perguntas que nos ajudarão a perceber que o Inquérito afinal
não esclareceu nada do essencial.
Começamos por uma das mais importantes. Afinal quem
colocou em Cambulo as mais de 250 milícias que nos atacaram? O próprio
Comissário Aristófanes adiantou este elevado número de atacantes!
Quem os preparou? Quem os avisou da ida dos Deputados?
A Comissão que fez o inquérito omitiu que as bandeiras
do Mpla estavam colocadas na residência de um militante da UNITA. Não estavam
nem em terrenos públicos, nem em terrenos pertencentes ao Mpla!
Mas segundo o Comissário Aristófanes os ataques
deveram-se à retirada das bandeiras! Como foi possível eles prepararem 8 kms de
emboscadas, em meia hora que foi o tempo que durou a retirada das bandeiras da
casa do militante da UNITA e a minha ordem de as colocar lá de novo (apesar de
termos toda a legitimidade em podermos retira-las)?
Quem acredita que em meia hora se mobilizam 250
homens, armados com catanas, zagaias e flechas, porrinhos, com tempo de cortar
árvores de grande porte e atravessa-las em vários pontos da estrada? Talvez o “
speed gonzalez” personagem do livro de quadradinhos, fosse capaz de tais
movimentos simultâneos, mas impossíveis num mundo real.
Agora vai a pergunta maior: porque é que o Ministério
do Interior está a proteger milícias, que existem ilegalmente e realizam
ataques contra Deputados? A quem o Ministério do Interior está a querer
proteger?
Quem são afinal os mandantes que obrigam a tão
grosseiras montagens? A incorrer em riscos tão perigosos, como o exercício a
que ontem assistimos e que não é mais do que um sério aviso de que ninguém,
absolutamente ninguém estará seguro quando em causa estiverem interesses do
partido no poder, habituado a tudo pisar e nada respeitar?
Será que estes senhores, que nos serviram tão
repugnante exercício de incompetência, refletiram bem ao pretenderem ser juízes
em causa própria? Pode o Ministério do Interior, que já nos tinha servido um
Comunicado cheio de falsidades, voltar a efectuar outro triste trabalho, onde
os atacantes foram juízes e onde se pretende julgar quem permitiu que hoje aqui
estivéssemos vivos? Estes que agiram sempre dentro do mais absoluto rigor, a
quem por mais que tentem não conseguirão imputar qualquer desvio ao Direito e à
Lei.
Será que todo este triste exercício resulta do facto
de terem falhado a missão e de estarmos vivos?
Como é que um servidor público e um oficial da Polícia
Nacional pode diferenciar o valor da vida e sugerir: “remeter à magistratura um
processo crime aos autores dos disparos que causaram a morte de 2 cidadãos”; e
nada remeterem contra quem atacou deputados e provocou o morte de um outro
cidadão?
Desculpem, senhores jornalistas, será que os senhores
ontem ouviram a intenção de responsabilizar alguém que atentou contra a outra
vida perdida? Terá esta vida menos valor? Terão aquelas mais valor por serem
militantes do partido no poder?
Mas, analisado pelo absurdo, ficou claro que o
Ministério do Interior autoriza assassinar cidadãos quando em causa está a
retirada de bandeiras! Autoriza atacar Deputados e desprotegê-los quando os
atacantes são numerosos! Não há qualquer responsabilização contra estes factos,
que constituem crime.
Foram estas as conclusões desta extraordinária e
incompetente Comissão de Inquérito! Tristes conclusões que atentam contra a
nossa Constituição e ferem a mais elementar regra de decência!
Senhores Jornalistas,
O Grupo Parlamentar da UNITA tem efectuado imensos
trabalhos de auscultação à diferentes comunidades do nosso país; tem efectuado
inúmeras intervenções sob os mais variados assuntos de interesse nacional;
tem-se movimentado bastante e tem sobre a mesa da AN a solicitação da criação
de 2 Comissões Parlamentares de Inquérito: uma exactamente sobre Capupa e outra
sobre a SONANGOL. Tem efectuado conferências de imprensa, bastante
fundamentadas, com aspectos relevantes da governação, como foram os casos da
situação sanitária e da rede viária do país, com o destapar de gestão
incompetente e de gritantes desvios de fundos praticados por muitos dos actuais
governantes.
Senhores jornalistas
São muitos aqueles que nos dizem que o alvo do ataque
de Capupa, era o Presidente do Grupo Parlamentar da UNITA! Nós precisamos de
respostas sérias e responsáveis das nossas autoridades. Por essa razão exigimos
uma Comissão de Inquérito Multidisciplinar e o seu natural espaço de realização
deverá ser a Assembleia Nacional.
Senhores Jornalistas,
Quando o Presidente do Grupo Parlamentar da UNITA
chegou a Luanda, foi por sua iniciativa recebido pelo Presidente da Assembleia
Nacional e antes de realizar a primeira conferência de imprensa, também por sua
iniciativa encontrou o Ministro do Interior. Ambos solicitaram a entrega, por
escrito, do relato efectuado. Este documento foi naturalmente entregue ao
Presidente da Assembleia Nacional. Já a sua entrega ao Ministro do Interior
mereceu alguma interrogação, pelo precedente de falsidades do comunicado do
Ministério do Interior em Benguela. Ainda assim decidiu-se pela entrega.
Também o Presidente da UNITA escreveu ao Presidente da
República sobre este grave assunto e manteve também um encontro com o Sr
Ministro do Interior.
Pensamos que o Ministro do Interior, numa acção ética,
deveria retribuir o tratamento que mereceu da UNITA, e partilhar o conteúdo
final do inquérito. Talvez até enviá-lo antes da conferência! Mas nada disso
fez, porque desconhece a importância destas acções. Nós lamentamos
profundamente. Afinal temos mesmo, modos e praticas muito diferenciadas no que
respeita à ética!
Importa dizer também que o Sr Comissário Aristófanes
alterou intencionalmente toda a dinâmica dos factos! Porque o fez? Nós fomos
verbalmente agredidos e ameaçados desde a chegada ao local de Cambulo. As
milícias estavam a nossa espera e algumas delas, pelos dados que nos vão
chegando foram transportadas para ali de municípios bem distantes.
Há reportagem de outros funerais que não interessaram
a Comissão de inquérito. Porquê?
Qual a expressa intenção do chefe da Comissão inventar
uma causa artificial aos ataques de que fomos alvo?
Por acaso este Comissário sabe que foram as armas
recuperadas à polícia que permitiram resgatar da mão dos atacantes, 3 membros
da delegação e também o polícia ferido pelos atacantes, que foi transportado
numa carrinha dos membros da delegação da UNITA?
Por acaso o Comissário, tão ágil em conclusões, sabe
como é que os Deputados conseguiram atingir o carro da polícia que os trouxe
depois? Sabe que os deputados tiveram de correr entre os atacantes e desviar-se
de catanas e flechas? Sabe que depois de atingirmos o carro da polícia, os
agentes da polícia tiveram que abrir caminho a disparar e não foi sempre para o
ar?
Lanço aqui um apelo: acabem com a impunidade e levem
aos tribunais os inúmeros autores de vários crimes naquela região. A protecção
aos criminosos é um forte incentivo á realização de novos crimes.
O encontro que os Deputados mantiveram com o
Procurador do Cubal, antes de partirem para Capupa, foi para se inteirarem das
razões porque 10 anos de agressões, com sete mortes de membros da UNITA, com a
sistemática destruição de instalações do partido, destruição de bandeiras,
nunca chegaram a julgado?
O nosso país tem um problema enorme, resultante da
sobreposição da função de 1º Secretário com a de Administrador. Os Administradores
comportam-se partidariamente na interpretação da sua missão e acabam por
arrastar as instituições que deles dependem para praticas idênticas. Daí a
partidarização das autoridades tradicionais e à desarmonia nas nossas aldeias!
A maioria dos incidentes que perturbam as comunidades resultam dessa opção do
Partido de regime. O Mpla vai responder perante a história por esta inquietação
nacional. De nada vale hoje a manipulação dos órgãos de comunicação social que
respondem aos chefes do regime!
Como balanço:
O Ministério do Interior mentiu quando disse não ter
sido informado!
Foi o Presidente do Grupo Parlamentar quem entregou ao
Ministro a Acta elaborada pelo Comando da Polícia do Cubal a afirmar o
conhecimento atempado de todo o itinerário! Afinal tinham conhecimento. Porque
mentiram?
O Ministério engana intencionalmente quando esconde
que as bandeiras do Mpla estavam na residência de um membro da UNITA!
O Ministério mente quando diz que o ataque começou com
a retirada das bandeiras!
O Ministério não sabe porque intencionalmente não
tinha colocado no relatório escrito, porque guardei alguns factos para o
inquérito imparcial; mas o polícia ferido foi transportado do local do ataque
até Capupa num carro dos membros da UNITA, agora acusados pela Comissão!
O CMDT da polícia do Cubal foi transportado do local
do ataque até Capupa num carro dos membros da delegação da UNITA, pelos mesmos
também agora acusados de crime pela Comissão!
A História vai-vos julgar como uma geração de
governantes incapazes de realizar a reconciliação nacional. São demasiadas as
mortes a que vocês fecham os olhos! São demasiados os inocentes que o regime
envia para os calabouços, acusados de crimes que não cometeram!
Temos a obrigação de deixar aos nossos filhos, à
geração vindoura um país melhor para se viver.
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