ANGOLANAS LUTAM PELO AUMENTO DAS NÁDEGAS


Por Diogénes Van-Dúnem

Cresce, considerável e descontroladamente, o número de mulheres angolanas e não só, residente em Luanda, que desesperadamente “buscam” aumentar o tamanho das nádegas que possuem. De modo assustador o fenómeno se propaga na Cidade Capital e, na ânsia desenfreada, tais mulheres não medem meios para se chegar ao desejável. Usam todos tipos de artimanhas possíveis, chegando mesmo, na maioria delas, a colocar em risco a própria saúde. Nem por isso elas abdicam. Da medicina convencional à natural (incluindo o recurso aos ginásios e curandeiros tradicionais), dos alimentos aos simples aperitivos culinários, usam de tudo para ter o bumbum ideal e, consequentemente, uma boa forma física. Influenciadas por amigas e, sobretudo, pelas imagens que vêem na televisão ou através das outras redes sociais, lá vão elas, motivadas, seguindo a onda. O objectivo é “aparecer bem” em público, para impressionar os homens, ou simplesmente elevar a auto-estima e enquadrar-se no meio social quotidiano de que fazem parte. Quem não tiver bumbum “em dia” jamais estará na moda e dificilmente despertará o interesse dos rapazes, defendem-se.
Recebem vários tipos de promessas, tais como empregos, carros, casas, viagens, casamentos, etc., uma vez que atitude já conquistou inúmeros admiradores e “patrocinadores”. São as preferidas dos rapazes, nas paragens de táxi, eventos, festas e mesmo nas ruas da capital, constituem a atração principal. Como imanes, aliciam quase todos os olhares masculinos, inclusive de outras senhoras que, algumas vezes derrotadas, vão fazendo comentários a respeito da outra. 
Há uma luta destravada, parece que é cada vez mais difícil conquistar os homens. Na tentativa vale tudo e a competição é espontânea e constante, não tem regras, nem local, acontece, diariamente, em qualquer lugar e já se implantou nas repartições públicas. Quem possuir mais nádegas tem mais seguidores, pode progredir mais rapidamente, pode ter as melhores notas na escola ou na universidade e pode trabalhar em bons locais.
O game está violento, afirmam os rapazes, que, não raras vezes, mentalmente esfomeados, vão aderindo ao movimento, deliciando-se, visual ou fisicamente, prometendo-as “fundos e mundos”. Entre estes há quem enquadre o fenómeno nos ganhos que a era pós-conflito militar trouxe ao País, porque tal tem tido maior destaque durante os 14 anos de paz que Angola atravessa. Amílcar Luciano, funcionário de uma empresa de electricidade, situada na zona urbana de Luanda, afirma que “é preciso muita coragem para enfrentar a Capital. Somos mentalmente provocados. É muita adrenalina a subir-nos todos os dias. O orgasmo é público, e ao ar livre. As mulheres perderam a vergonha, pois é tanta ousadia e algumas exageram, no tamanho da Nbunda que apresentam, mas ainda mais na roupa que escolhem para usar no dia-a-dia. Muitas vezes quando se chega à casa, o homem já perdeu todas as vontades na rua. Fica sem disposição para olhar a parceira (mulher ou namorada), dado que já se auto-satisfez só de olhar, lá fora, para não falar dos casos em que alguns, excitados, cedem e arranjam mais de uma relação amorosa, visto que por cá a tentação é crua e nua”.

Hoje por hoje, as mulheres também “colocaram o ter Nbunda grande acima de tudo” porque mentalizaram que tal característica dá-lhes maiores facilidades de singrarem na vida. Acreditam que os rapazes fazem tudo por

elas. Algumas foram, à nascença, abençoadas, é tudo natural, faz parte do ADN familiar. Mas há quem jamais teve tal sorte. Razões por que buscam diversos métodos, umas ficam pelo ginásio e suplementos alimentares, outras optam por cirurgias plásticas no exterior do País. Algumas, mais ousadas, recorrem aos curandeiros tradicionais que, espalhados por quase todos os bairros, aconselham-nas vários coisas, desde a introdução constante do aperitivo culinário caldo Maggy no ânus à colocação da carne (bife), durante horas, na vagina, antes de ser cozinhando para dar, posteriormente, ao homem desejado e, desse modo, prendê-lo. 

Nunca fiz isso, pois o meu é natural, mas tenho amigas que o fazem e parece que tem estado a dar resultados; introduzem o caldo diariamente no ânus e em todas as refeições que fazem, afirma Ana da Silva Kombo, estudante do primeiro ano do curso de relações internacionais na Universidade Técnica de Angola (UTANGA).

Segundo Ana Lombo “elas fazem isso para impressionar os professores, chefes, colegas ou homens que têm alguma posse, com o intuito de as ajudar a singrar na vida, embora exista quem já esteja bem de vida e o faz apenas para prender o parceiro, aumentar a auto-estima ou exibir-se. Aqui, na Universidade, tem muitas. Nos mercados e paragens de táxi já nem se fala, é só ficares na ponte dos Congolenses, Aeroporto 4 de Fevereiro, na entrada da Shoprite Palanca, Kero Nova Vida, rotunda do Benfica, Vila do Gamek ou aqui mesmo, defronte a sede do Ministério das Finanças, e vais ver. Até as empregadas domésticas já estão a fazer isso, para despertar maior atenção dos patrões sobre elas. E as mulheres destes contra-atacam na mesma linha. Ninguém quer ficar para atrás. Está na moda, é a vida, vamos fazer o quê?”. 

A febre pelo aumento das nádegas já leva alguns anos, mas nos últimos cinco, parece que “o pico tende ultrapassar a linha vermelha”. Há anos era comum verem-se mulheres no Largo da Samba e 1º de Maio, por exemplo, a fazer ginástica, para “estar em forma”. Hoje, porém, isso apenas não basta. Além de que muitas são aqueles que terão sido “vítimas” dos supostos instrutores ou colegas. “Já saíram muitas gravidezes nessas coisas. Por isso, a afluência reduziu. Agora a preferência é pelos métodos mais arriscados e esquisitos”, disse a jovem Fernanda Baptista, de 24 anos, residente no bairro da Madeira, junto ao hipermercado Jumbo.

Redes sociais “fomentam” propagação do fenómeno

A propagação massiva de uma indústria da corpolatria, baseada nas características físicas como a melhor forma feminina de ascensão socioprofissional ou conjugal, o advento das novas tecnologias de informação e comunicação, com particular realce para o uso, generalizado, das redes sociais, apesar dos aspectos positivos que lhe são inerentes, fomentam, sobretudo em Luanda, de modo assustador, a corrida das mulheres pelo aumento das nádegas, independentemente da idade, condição social e nível de instrução. Cada uma quer ser a melhor. As que ainda não têm querem ter, as

que já possuem querem manter-se no topo. Os resultados são divulgados com satisfação, através de fotografias e vídeos, nas redes sociais. Jamais desperdiçam uma única oportunidade quando se trata de “aparecerem”, e há espectadores assíduos à espera. No facebook e no WhatsApp, por exemplo, onde frequentemente aparecem, algumas para criarem amizades chegam a “cobrar”, ora exigindo valores monetários ora cartões de recarga telefónica, a fim de activarem o plano de dados. Em massa nas redes sociais, comprometidas (ou não!), estudantes, executivas, trabalhadoras, adultas ou jovens, manifestam abertamente disposição para práticas promiscuas, por iniciativa própria ou mediante convite.

Há preços para todos os bolsos, mas se o interessados “ferve” melhor ainda. Grupos de conversa restrita como As Rabudas, Cozinha Aberta, Tezudas, Negócio Secreto ou Papo Directo, podem ser encontrados no Facebook e no WhatsApp, nos quais as conversações tratam sobretudo de sexo. Ali, pode-se ter um primeiro contacto com elas e, posteriormente, convidá-las para negociações particulares. Foi possível conhecer Sara Madalena dos Santos “Kinguera”, jovem na casa dos 20 anos, residente em Viana e estudante do Colégio Carvaju no Zango II, cujos pais proporcionarem uma condição de vida estável. Sara Madalena, que faz música Hip-Hop, tem um corpo muito atraente e ancas enormes, por isso, usa-os para conquistar as pessoas do sexo masculino e obter o que quiser destes, a medida que se vai oferecendo e os vai conhecendo. Adora sexo anal, mas não gosta de “bacanal”, como denominam o sexo com várias pessoas em simultâneo, e ainda vive com os pais, dai que o local de encontro fica ao critério do “amigo”. Os pais jamais desconfiam que a mesma ande nesta vida. Aceita enviar fotos com o rosto e partes sensuais dos seus órgãos genitais, caso lhe sejam pedidas. Também faz vídeos. Gosta de ser directa e objectiva “para jamais gastar o saldo”. 

Ao estilo de Sara, são visíveis no Facebook também Maria Pedro, Maura Botelho, Nina Rafael, Flamiana Chicambi (Luanda), Dayana Natália (Lunda Norte), Olinda Pedro (Huambo) e Céu Symbane (Maputo). Eva do Pecado Vilhena (Luanda), por exemplo, outra rapariga “fisicamente abençoada”, em 2014 ficou conhecidíssima por ter postado um vídeo no Facebook que propagou-se no Youtube, onde, com um vestido extravagante, exibia as nádegas enormes que tem dançando a música “Quadradinho” durante um casamento. Foi uma publicação que se tornou viral no Youtube e a sua aparição colocou a aludida música nos picos da audiência e tornou ainda a rapariga num sucesso do “Nbundismo” em Angola.    

 As predilectas nas noites de Luanda

Nos tempos que correm, é frequente a promiscuidade nas festas nocturnas da cidade Capital. Denominadas de After-party (o pós festa), aparecem raparigas semi-nuas, alcoolizadas a exibirem o corpo avantajado que ostentam. As tão propaladas festas iniciam sobretudo a partir da 23h30, prologando-se até a manhã seguinte, em condomínios residenciais e apartamentos nas centralidades luandinas. Nestes eventos, o lema é ser melhor. Todos beijam todas, todos envolvem-se com todas. As bebidas alcoólicas, principalmente Whiskies e cervejas, não faltam. As After-partys são como que uma extensão da festa. Ou seja, os jovens vão a festa, depois fazem a continuidade em privado, geralmente em casa de um deles, onde os responsáveis não estejam ou em residências alugadas, sobretudo nos Zangos. As mulheres não contribuem financeiramente, em contrapartida devem vestir-se “bem sexy”, apresentando-se de colãs, calções, vestidos ou saias ajustadíssimas, a fim de seduzir os participantes. Por vezes, na extravagância, algumas surgem somente de roupas interiores e sutiãs, cobertas por uma rede ou qualquer outra peça de roupa, inicialmente. A meio desta festa, há exibição de strip-tease e bacanal. “A loucura é total”, confidencia uma frequentadora que, todavia, prefere anonimato.
As mulheres fisicamente avantajadas são as predilectas nestes eventos, algumas raparigas afirmam que participam porque oferecem-se prémios e outros estímulos aos frequentadores do sexo feminino. “Cada uma quer mostrar que está melhor “em forma”, que é Mãe-grande da área”, disse a mesma fonte, estudante de Comunicação Social, e residente na Centralidade do Kilamba, com a mãe e o padrasto.
Algumas são ainda adolescentes, mas por possuírem uma fisionomia corporal enorme, consubstanciado no enorme tamanho das nádegas, passam despercebidas da maioria, tornando-se adultas no seio de adultos. Para alguns organizadores de eventos, os homens gostam de mulheres com nádegas enormes, pois as festas não são apenas frequentadas pelos adolescentes e jovens, até os “papoites caiem na noite para caçar miúdas em dia”, argumenta Paulo Kimaji, promotor de festas na Samba e Morro Bento, município de Belas. 
Mulheres avantajadas (entenda-se com ancas enormes e fisicamente bem parecidas) trazem aderência ao evento, razão por que muitas vezes não pagam para entrar, são convidadas do organizador para fazerem companhia aos convidados especiais e dar glamour a festa; geralmente elas vestem-se de acordo o tema em alusão; há quem vá lá apenas para as ver e conhecer uma delas, avança Paulo Kimaji, que possui nos arquivos eventos como Noite da Saia Malandra, Decote, Fio Dental e Xuxuado. 

Festas como do “bumbum dourado”, “senta no pula pula”, “chupa lá”, “mulherada”, “vai dar namoro”, e grupos de raparigas como as “baconas”, “ti pipito”, “cona russa”, “lambedoras” e “dia livre” aquecem e despertam multidões em Luanda, onde o “Nbundismo”, como também é chamado o movimento da apetência pelas ancas enormes, é visível todos os dias a olhos nus desde que se percorra as ruas da cidade, que vai perdendo o prestigio a cada dia.

Especialista alerta dos perigos

É verdade que as crises são cíclicas, mas jamais podemos nos deixar vencer, por mais que estejamos a passar por dificuldades sociais, profissionais ou familiares. Jamais devemos procurar o sustento e a ascensão através de meios poucos lícitos ou fáceis demais. Temos de ser muito equilibrados, para não cairmos nestas banalidades, afirma a professora de psicologia social Carla Cruz, que admite que muitas mulheres procuram impressionar a sociedade somente devido a boa estrutura corporal que ostentam. A especialista entende que as redes sociais e as TICs deviam servir para a partilha de coisas positivas, ao invés de promoverem a promiscuidade e a quebra de valores morais e sociais, mas tal como tudo, elas têm vantagens e desvantagens. 

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