CASAMENTO ENTRE “SULANOS E NORTENHOS” É UM DOS GANHOS DA INDEPENDÊNCIA E DA PAZ
Por Redacção
A Independência Nacional proclamada solenemente por António Agostinho Neto,
às 23h:00 do dia 11 de novembro de 1975, é o maior marco da história do povo angolano.
Não menos importantes feitos do heroísmo dos descendentes de Ngola, perfilam-se
os diversos acordos celebrados entre os “irmãos” desavindos por questões
ideológicas e não só, sob mediação de Estados estrangeiros, com destaque para
os Acordos de Bicesse – que não só trouxeram a paz, bem como mudou o paradigma
de vida nacional. Falaremos mais adiante.
Porém, pese embora a Independência Nacional tenha sido proclamada num
clima de tensão político-militar e de fortes divisões tribais, hoje os seus
frutos são visíveis aos olhos de todos.
Obviamente que poderá haver quem duvide que o país tenha registado
mutações positivas em relação ao contexto colonial ao actual. Alguns mesmo acreditam,
piamente, de que viviam mais saudáveis ou que tivessem melhor dieta-alimentar naquela
altura. Mas na verdade, o maior louro alcançado face a Independência Nacional é
a relação de unidade, respeito, amor e tolerância reciproca entre todos os
povos de Angola – direito este que o colono português havia repelido para
melhor dominar.
Ora, despido de qualquer sentimento de ódio, rancor ou raiva, vale
lembrar que os antepassados destes governantes portugueses que se fizeram
nossos amigos hoje, doutrinaram aos homens e mulheres da zona norte do país,
sobretudo aos Ambundus, de que eram mais fortes, íntegros e fiéis em relação
aos homens do centro e sul, e que determinados alimentos como a massana
(mahine) ou o funje de milho eram somente para os seres fracos, os do Sul.
Já aos homens e mulheres do sul e da zona central de Angola, o
colonizador fê-los acreditar que eram por natureza mais bem-parecidos e mais
inteligentes que os nortenhos – mesmo sem frequentar qualquer formação de
superação. Para melhor dominar e obviamente que resultou, o “homem branco” fez
com que os dois povos demograficamente mais representativos no território
angolano acreditassem que manter uma relação matrimonial com uma mulher ou
homem de outro grupo ético, significava sacrilégio ou traição. Crença que
perdura na cabeça de algumas pessoas até ao momento.
No caso vertente, movido pelo desejo colectivo de liberdade, os povos de
Angola mobilizaram-se em várias frentes na luta contra os “invasores”
portugueses. Com a proclamação solene da independência, os angolanos puderam
palmilhar livremente diferentes localidades do país, sem se fazer acompanhar de
uma guia - documento exigido pelo colonizador português, aos indígenas
pretendessem fazer determinados percursos.
Bicesse fortaleceu a unidade entre os povos
Como já enunciado, por cerca das 23 horas do dia 11 de novembro de 1975,
o primeiro presidente da República proclamou a independência do país no Largo
do 1º de Maio, sob forte medida de segurança, dado o facto de as Províncias
fronteiriças da capital registarem intensos combates.
Para o azar das famílias, o conflito durou mais de uma década, tendo conhecido
a sua mais significativa trégua, a 31 de Maio de 1991, com a assinatura dos
Acordos de Bicesse.
O armistício não só ditou o fim da guerra, como pôs termo ao regime de «Partido-único»
e da economia centralizada, dando lugar ao Multipartidarismo e a economia de
mercado, proporcionando assim o surgimento de grandes negociantes Ovimbundos, Ambundus,
Bacongos e etc, que passaram a comercializar seus produtos em qualquer
localidade do país, sem descriminação.
No entanto, os Acordos de Bicesse permitiram que os cidadãos de
diferentes grupos éticos linguísticos se aproximassem uma a outra, resultando
em vários matrimónios. Jamais houve tanto casamento entre Ambundos e Ovimbundos
como nos dias que correm.
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