“MALÁRIA E A FEBRE-AMARELA NUNCA DIZIMARAM TANTA GENTE COMO NOS 41 ANOS DE INDEPENDÊNCIA”

“A República de Angola nunca registou tantas mortes por malária e febre-amarela como nos 41 anos de Independência Nacional”, o desabafo advém de diferentes cidadãos ouvidos no âmbito das comemorações da Dipanda.


O país assinalou 41 anos de independência proclamada solenemente às 23 horas do dia 11 de novembro de 1975. O marco alegra a todos, mas os cidadãos, face a precariedade no Sistema de Saúde Nacional, apelam ao Executivo que redobre esforços para que as doenças como a malária e febre-amarela jamais voltem a dizimar tanta gente como há poucos meses.

Ora, segundo o ancião Abílio, natural da Província do Huambo, que face ao passar do tempo e associado ao pouco nível de instrução académica, desconfia ter mais de 91 anos idade, a República de Angola nunca registou tanta morte por malária e febre-amarela no tempo colonial como nos 41 anos de Independência Nacional.

Peremptório, o velho diz que o colono português já havia, parcialmente, extinguido a malária e por completo a febre-amarela. “E isso de o presidente da República e seus ministros buscarem saúde fora do país, só nos pode transmitir a ideia de que o Sistema de Saúde é um desastre”, desabafou o ancião que diz temer pelo futuro de seus netos.

No caso vertente, na nossa ronda por Luanda, encontramos o politólogo e professor Gualter Franklim, que acredita que a restauração do Estado seja o único ganho alcançado pela independência.
Sebastião Salakiaco

Para o mesmo, a proclamação solene da independência, a 11.11.75, foi um passo decisivo para o início da organização do Estado, que permitiu ao país estabelecer as normas políticas e sua administração pública. “Mas infelizmente, a independência não resultou em transformações políticas profundas, tampouco sociais, porque o país mergulhou em profunda crise política, defrontou-se com a existência de um sistema educativo totalmente decalcado do modelo português com infra-estruturas escolares excepcionalmente localizadas nos centros urbanos, com fraca acessibilidade e equidade relativamente às populações autóctones”, enumerou.

Asafe Adelino
Já o engenheiro Asafe Adelino é de opinião de que com a independência, a República de Angola não só ganhou reconhecimento internacional, mas também progressos a nível social: mais escolas de ensino geral, universidades, hospitais etc. No entanto, “a independência foi só mais um passo para alcançarmos o progresso social e político”, diz o nosso interlocutor, que lamenta as mortes provocadas pela guerra civil pós-independência.

Contrariamente ao que disse Asafe Adelino, o empresário Manuel Ulica entende que os angolanos nunca desfrutaram dos ganhos alcançados por uma independência real, face a má gestão governativa.

Para o jovem empresário, o sistema de saúde angolano é um caos total, para justificar o que diz, aponta o facto de o presidente da República e os ministros do sector procurarem saúde ao exterior, sempre que se encontrem adoentados.

“Isso é prova mais que evidente de que eles (governantes) não confiam no Sistema de Saúde e da capacidade dos médicos que eles puseram à disposição dos cidadãos. No meu entender, pese embora esteja meio descoordenado, o sistema de educação está melhor que a saúde”, realçou.
Manuel Ulica



Também contactado a propósito, o politólogo e também professor Sebastião Salakiaco, sublinha a autodeterminação, o consequente reconhecimento internacional; a paz efctiva, as bases para a reconciliação das nações angolanas, a reestruturação das forças armadas unificadas, a construção e reconstrução de infraestruturas ferroviárias e rodoviárias, a alegada normalização das instituições democráticas e a competição política para a ascensão, exercício e manutenção do poder-politico como principais ganhos alcançados pela Independência Nacional.



Por sua vez, o também politólogo João Lukombo atribui os insucessos da independência a violação dos Acordos de Alvor – documento que ditava as regras para o alcance da referida emancipação.


João Lukombo
“Ora, para além da violação dos Acordos de Alvor que estabelecia a realização de eleições livre, justas (art. 40° dos Acordos supra), atribuindo ao candidato e ao movimento vitorioso a responsabilidade de formar Governo e Presidente da República de Angola respectivamente, tal como ocorreu no GHANA e na RDC, a instauração de um regime político de orientação marxista-leninista por parte do MPLA no pós-independência - que visou excluir os dois outros Movimentos de Libertação (FNLA e UNITA), a violação constante da actual Constituição da Repúblicas e demais leis por parte do Titular do Poder Executivo, a corrupção galopante e institucional que corroí e roeu os cofre do Estado são os principais recuos destes 41 anos”, referiu o politólogo, acrescentando, que, “os insucessos da Independência Nacional para param por aí, pois a violação dos Direitos Humanos e ao direito à vida pelo governo angolano (casos Eng° Nfulumpinga, Ganga, Cassule, Kamulingui e Rufino etc), a falta de liberdade de imprensa, manifestação, a monopolização de alguns sectores da economia angolana pela família do Presidente da República, tais como a banca nacional, o sector diamantífero, petrolífero, a telefonia móvel (UNITEL, MOVICEL), as fraudes eleitorais de (1992, 2008 e 2012), protagonizadas pelo regime santista e que tem retardado o processo de democratização e de fortificação das instituições angolanas em vez de homens, juntam-se aos factores que tonam amarga as comemorações da independência”, disse.



Importa referir que para além dos recuos enumerados, o nosso interlocutor acredita ter havido alguns avanços nestes 41 anos de independência e aponta os Acordos de Bicesse como um dos maiores ganhos alcançados.



“Face aos 41 anos de independência, os angolanos conseguiram implementar um processo de reconciliação nacional, sendo as Forças Armadas Angolanas (FAA) a instituição do Estado que melhor tem sabido lidar com o processo. Portanto, associados aos avanços que citei, estão o sentimento de segurança que o calar das armas trouxe, a livre circulação de pessoas e bens, a reconstrução nacional - que permitiu a ligação do país por terra e normal funcionamento das instituições, a quantificação dos serviços de saúde e de educação”, lembrou o politólogo João Lukombo.



Com F8

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