OH NO! TRUMP GANHOU
Por Alexandre Martins (em Nova Iorque)
Fonte: Público
A Clintonlândia foi da animação à depressão em apenas uma hora
Donald
Trump, o magnata e estrela da televisão era visto como uma piada, vai mesmo ser
o próximo Presidente dos EUA.
A noite começou animada para os apoiantes de
Hillary Clinton num bar perto do centro de convenções em Manhattan, onde
Hillary Clinton aguardava o momento de se tornar na primeira mulher Presidente
dos Estados Unidos da América. Mas quando a fila interminável de ecrãs, todos
sintonizados na CNN, começou a cuspir os primeiros resultados, a animação deu
lugar à apreensão, que depois trouxe com ela a incredulidade, passou pelo
estado de negação e terminou em desespero. Donald Trump, o magnata do
imobiliário e estrela da televisão que não ia passar de uma piada quando
anunciou a candidatura à nomeação pelo Partido Republicano, o nomeado que ia
perder quase de certeza nas eleições gerais, vai mesmo ser o próximo Presidente
dos Estados Unidos da América.
Perder
a Florida já era um aviso, mas depois vieram atrás o Ohio, a Pensilvânia, o
Wisconsin, o Iowa, a Carolina do Norte, e as mãos na boca de espanto.
Cá
fora, no passeio, vários apoiantes de Hillary Clinton espreitavam através dos
vidros, em direcção aos ecrãs, e as expressões imitavam as que se viam lá
dentro: a cada estado que caía para Donald Trump, alguém gritava sozinho um
grito colectivo: "Oh, no!"
Jeff
Williams era um dos que estava cá fora, no passeio, todo ele em estado de
negação. "Ouve, isto não quer dizer nada, é sempre assim. Primeiro contam
os estados mais pequenos, onde os republicanos ganham sempre, mas depois no
final da noite chegam os estados maiores e ela vai ganhar."
Pegamos
no telemóvel e mostramos ao Jeff que o site do New York Timesdava agora 78% de
probabilidades de vitória a Donald Trump, quando uma hora antes se lia 81% de
probabilidades de vitória para Hillary Clinton. A resposta chega na forma de
duas perguntas: "Tu és mesmo jornalista? Queres que o Trump ganhe,
é?"
Pouco
depois, Jeff vê-se metido numa discussão com um apoiante de Donald Trump que
passava no meio da multidão de democratas. "Ele é louco! Na semana passada
tiveram de lhe tirar a conta do Twitter!" E a discussão seguiu por alguns
minutos, sempre no mesmo registo, com variações das mesmas ideias: "Ele
até pode ser louco, mas ela é corrupta, e eu prefiro um louco a uma
corrupta!"
Mais
e mais pessoas regressavam a pé da zona do centro de convenções onde Clinton
esperava fazer a festa, e bastava olhar para as expressões delas para perceber
que a festa já tinha sido cancelada muito antes de ter sido anunciado o
resultado final.
As
longas ruas de Manhattan iam agora todas desaguar na Avenida das Américas, em
frente ao hotel da cadeia Hilton onde Donald Trump acompanhava a contagem dos
votos rodeado pela família e por outros conselheiros de campanha. Era
impossível perceber se lá dentro o ambiente era de festa, mas cá fora já soavam
buzinas nas ruas, sempre recebidas com muitos "Fuck Yeah!", "God
bless America" e "Trump! Trump! Trump!"
John
e Susan Fox vieram de Indianapolis, no estado do Indiana, com a esperança de
assistirem de perto a uma vitória de Donald Trump. John diz que é fã de Donald
Trump há 30 anos e viajou mais de mil quilómetros só para ver "um sonho
tornado realidade". O quarto para este dia foi reservado há quatro meses.
"Li
todos os livros dele, reservámos um quarto no Trump International Hotel há
quatro meses. Ele vai ser um óptimo Presidente", diz John, já convencido
da vitória. "As pessoas querem menos políticos e mais empresários a
governar este país." Susan prefere não falar do muro que Trump prometeu:
"Eu só quero que ele crie mais postos de trabalho e que controle o
défice."
Alguns
apoiantes de Trump já festejavam como se o seu clube de qualquer coisa tivesse
ganho qualquer coisa pela primeira vez na vida, mas outros estavam tão
incrédulos e surpreendidos como os eleitores de Hillary Clinton que tinham
ficado lá para trás.
"Não
estava à espera disto", diz William. "Parece que a minoria silenciosa
já não é assim tão silenciosa. Estou muito orgulhoso. Disso e da América. O
Bernie Sanders e a Hillary Clinton são comunistas. Eu só quero ter mais
dinheiro no meu bolso."
Jennie
é mais uma das vozes que gritam e não cabem em si de contentes, todas
espremidas num passeio que era bem maior há poucas horas. Entre elas e o seu herói,
lá dentro no hotel Hilton, estava uma outra multidão, esta de jornalistas e
polícias. "Esperava que ele tivesse bons resultados na votação popular,
mas estava preocupada com os votos para o Colégio Eleitoral, não acreditava que
ele pudesse ganhar", diz Jennie, que não pára de abanar a cabeça e, com
ela, o seu chapéu prateado com letras a vermelho: "Make América Great
Again."
0 comentários: