QUADRO SÉNIOR DO MIREX ACUSADO DE FALSEAR DOCUMENTOS DE POSSE DE TERRA
Fonte: F8/ D. Políticas
O
director de gabinete do ministro das Relações Exteriores, André Panzo é acusado
pelos herdeiros da camponesa Luzia Sebastião de esbulhar uma parcela
de terra, a eles pertencente, na zona do Santo António,
município de Belas, em Luanda.
O
conflito remonta ao ano de 2010, mas face ao poder político e
financeiro do governante, as autoridades de direito têm penalizado os mais
fracos, pois nada fazem para repor a legalidade, ao ponto de permitir que o
director de gabinete de George Chikoty vedasse o terreno alheio.
Entretanto,
por causa do abuso de poder e da força, ainda nessa época, a lesada Luzia
Sebastião, conjuntamente com a anciã camponesa Domingas, constituíram
um advogado que apresentando queixa houve provimento, passando o processo a
ter o nº 04/14-D e que se encontra já em fase de julgamento no
Tribunal Provincial de Luanda.
A propósito,
uma fonte da 2ª Secção da Sala do Cível e Administrativo do Tribunal Provincial
de Luanda, onde o dirigente foi constituído arguido, André Panzo reivindica
legitimidade na posse do terreno em causa, e alega (com documentos)
pagar impostos industriais do referido espaço, desde 2006.
Jesus Gomes, filho da camponesa Luzia Sebastião |
"Mas infelizmente,
nem a abertura do processo levou o director de George Chicoty a frear
a sua tendência de violação da lei, quanto a ocupação ilícita do terreno,
obrigando mesmo o causídico das camponesas a interpor uma
providência cautelar, deferida pelo juiz", denuncia um dos
herdeiros.
Ora,
a medida cautelar serve para impedir que no curso do processo, ocorram
situações de risco marginal que inviabilizem o resultado útil que se poderia
esperar. No entanto, o conceito de risco marginal é oriundo da doutrina italiana,
e significa o risco de situações que não dizem respeito ao objecto da acção
principal, mas que lhe podem causar “inefectividade”.
E em
claro desrespeito à Lei, André Panzo não se fez rogado e continuou com as obras
no terreno em litígio e na fase judicial, tanto que conta com a cumplicidade de
efectivos das Forças Armadas Angolanas, adstritos ao PCU.
No
entanto, vale recordar que o facto já mereceu destaque em nosso jornal, o F8
envidou esforços em contactar o visado, mas fontes ligadas umbilicalmente ao
governante descuraram qualquer possibilidade deste esclarecer o episódio à
imprensa.
No
caso vertente, o herdeiro de Luzia Sebastião, Jesus Gomes, garante
que “os documentos de posse de terra exibidos por André Panzo são falsos,
porquanto, o seu requerimento foi dirigido à Joana Quintas, na
qualidade de administradora de Viana, na altura, clarifica que o mesmo
terá adquirido um terreno no Bita Tanque, presentemente município do
Belas”.
“O caricato
é que o nosso terreno, ocupado pelo senhor Panzo está localizado no
bairro Santo António e não no Bita Tanque. Ele tem que procurar o terreno dele
no Bita Tanque como consta na sua declaração”, aconselhou o filho de
Luzia Sebastião, acrescentando, que, “o senhor Panzo disse na declaração
enviada à ex-administradora que adquiriu o terreno, então questiono, adquiriu
de quem? E de acordo a Declaração da Direcção Provincial da Agricultura e do
Desenvolvimento Rural, o mais velho Panzo está inscrito naquela Direcção sob
nº100, possui uma parcela de terra para fins agro-pecuários de três hectares,
mas na declaração que ele (governante) enviou à administração municipal alega
que o seu terreno é de 30 metros quadrado. O nosso terreno mede muito mais do
que isso”, garantiu.
“MININT é o órgão mais sério do Estado”
Entretanto,
face ao arrastar da situação que obviamente a tem gerado desgaste físico, a
velha Luzia de 73 anos de idade, lamenta o facto e acredita que se a
situação não se resolver antes de seu desaparecimento físico, os rebentos delas
serão incapazes de herdar as terras que ela conseguiu com muito sacrifício.
“Pela
morosidade do Tribunal em se pronunciar sobre o facto em concreto, mas também
pela indiferença do Ministério das Relações Exteriores (MIREX), onde André
Panzo desempenha funções de director de gabinete do ministro”, disse a velha,
um dos filhos desta acrescentou: “o Ministério do Interior (MININT) é o órgão
mais sério do Estado, se o senhor Panzo fosse polícia ou desempenhasse funções num
dos serviços que responde directamente ao MININT, face ao arrastar dessa
situação e aos queixumes das velhas, ele já seria chamado e exigido explicações
sobre o assunto”, presumiu, adicionando, “admira-me a indiferença do MIREX.
Como é que um quadro sénior do ministério é continuamente acusado de esbulhar
terras de pobres camponesas e o órgão para quem este trabalha não o chama à
razão?”, Interrogou-se.
Camponesas venceram litígios antes deste
Entretanto,
o documento intitulado "Relatório Final", produzido a 27 de Fevereiro
de 2014, pela Administração Comunal da Camama e distribuído a diversos órgãos
afectos ao Governo da Província de Luanda, considera terem as velhas
camponesas, Luzia Sebastião e Maria João Gomes, vencido antes dois
litígios do terreno, que agora disputam com André Panzo, director de gabinete
do ministro das Relações Exteriores.
O
"Relatório Final" aborda também uma anterior disputa entre as
camponesas e o senhor Marcelo António Kueia, que, alegava, igualmente, ser dono
dos 29070 metros quadrados.
Mas
o relatório técnico é letal, por exemplo, quanto ao processo de um outro
cidadão: “a cópia da Declaração de Exploração apresentada pelo senhor
Marcelo António Kueia, não consta nos registos da Direcção Provincial do
Desenvolvimento Rural e Pescas de Luanda”, lê-se na linha 1, do
Relatório.
Na
linha a seguir diz, “as autoridades locais contactadas (Comissão de Moradores e
o Soba local) confirmaram que o espaço tem vindo a ser explorado pelas senhoras
Luzia Sebastião e Maria João Gomes, há muitos anos (...) a Direcção
Provincial de Fiscalização e Inspecção do GPL confirma ter antecedentes do
referido terreno em favor das senhoras Luzia Sebastião e Maria João Gomes”,
conclui o documento governamental.
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