MAIS VALE SER ABELHA-RAINHA DO QUE RUFINO
Por Adão Weka
ANGOLA: O caso do menino Rufino António, de “apenas” 14 anos de idade, que se tornou no adolescente mais famoso do país, face a forma bárbara como conheceu a morte pelas mãos de um soldado das Forças Armadas Angolanas (FAA), adstrito ao Posto Comando Unificado (PCU), continua a gerar várias reacções, das mais lógicas e absurdas possíveis.
A morte a tiro do pequeno dividiu profundamente a sociedade. A maioria
entende que o Comando da Região Militar de Luanda, capitaneada pelo general Simão
Carlitos Wala, deve identificar e entregar o autor do tiro aos órgãos competentes
para se fazer justiça. Para outros, o militar que atirou certeiro à cabeça de
Rufino António, quando eram 16 horas do dia 06.08.16, no bairro Walále, no
Zango II, local onde estão a ocorrer as demolições compulsivas de residências,
fê-lo em legítima defesa.
Infelizmente para os angolanos, sobretudo para os mais pobres – sem meios
e recursos para se defender, as instituições do Estado também comungam com a
teoria de legítima defesa neste caso em concreto. Pois, o juiz-conselheiro-presidente
do Tribunal Militar, António dos Santos Neto Patónio, deixou implícito na
sequência da entrevista que concedeu ao Jornal de Angola, no dia 27.08.16, que para
a instituição que dirige, os soldados agiram em legítima defesa.
“Caso se conclua que o tiro foi efectuado
por um militar, tendo em conta que não se tratou de uma acção isolada, a
Justiça militar tem de responsabilizar o mandante da operação. Aqui estaríamos
diante de um crime praticado por um militar contra um civil. Se assim for, o
processo passa a ser da competência do tribunal comum. Contudo, daquilo que
ouvimos presume-se que os militares agiram em legítima defesa”,
advogou o juiz, que obviamente também é pai.
Entretanto, fazendo fé nas palavras deste importante juiz, facilmente chegar-se-á
a conclusão de que o caso de Rufino António, rebento de pobres, será relegado
ao esquecimento. Em face disso, importa alertar a José Eduardo dos Santos de que,
degrau a degrau, a sua administração está a construir a ideia de que os militares
têm “livre-trânsito” para atirar e matar civis, sempre que estiverem no exercício
de suas funções, criando assim uma psicose perigosa para toda a sociedade.
Contudo, para o bem da confiança nacional, pacificação dos espíritos e construção
de boa imagem na comunidade internacional, o Rufino que na inocência de seus 14
anos sonhava ser operativo da Polícia Nacional para ajudar os pais – já que na periferia
alimentou-se a ideia de que só tem sucesso na vida quem for agente da polícia –
merece justiça.
Ora, são os valores como liberdade, direitos, justiça e paz que
alimentam as sociedades modernas e, a exigência do cumprimento de tais valores
não deve ser confundida como um acto hostil ao Governo.
Por exemplo, as Abelhas - insectos voadores, conhecidos pelo seu
papel na polinização – obviamente que são bichos e
seres inferiores a nós, e, entretanto, não estão acopladas aos valores das
sociedades citadas acima, mas elas fazem o homem pagar (justiça) sempre que
este, por engano ou propositado investa contra a abelha-rainha ou invada o seu
habitat.
No entanto, se por acaso o puto Rufino fosse “Abelha-mestra”, de certeza
que os militares que o atacaram se arrependeriam da contenda.
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