DOS SANTOS RESISTIU À PRIMAVERA E DEIXARÁ O PODER SERENAMENTE
Presidente da República, José Eduardo dos Santos |
O presidente da República e comandante-em-chefe das
Forças Armadas Angolas (FAA), José Eduardo dos Santos, foi um dos poucos chefes
de Estado com mais de 30 anos de poder ininterrupto que resistiu às
manifestações turbulentas, desencadeadas em 2011, à escala global.
Destas terríveis manifestações populares – que foram
inicialmente pacíficas, denominadas “Primavera Árabe”, caíram temíveis
presidentes como Mouammar Kadhafi, Mohammed
Hosni Moubarak – ambos tidos como mais fortes, estrategas e
astutos em relação ao chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos. Ledo
engano.
Ora, as supracitadas manifestações de massas tiveram
início na República da Tunísia, em simples gesto de solidariedade a um jovem
licenciado que se ateara fogo, frente ao Comando de Polícia local, motivado
pela falta de emprego, mas sobretudo, pelo facto dos operacionais da ordem e
tranquilidade públicas, terem apreendido os produtos alimentares que o rapaz
vendia, tendo inclusive, condicionado a devolução da mercadoria em troca da
“famosa gasosa”.
O mero acto de solidariedade se transformou numa
manifestação em grande escala contra o poder absoluto e ininterrupto do
presidente Abidine Ben Ali. Obviamente mais veloz do que quaisquer vírus
mortíferos, o resultado (positivo) do protesto tunisino estimulou cidadãos de
outras paragens – também governados por um mesmo indivíduo há mais de 20 anos,
a atitudes similares aos registados na Tunísia.
Primavera foi contraproducente para outros
Estados
Porém, se é verdade que as manifestações na República
da Tunísia fizeram poucas mortes e proporcionaram o nascimento de um país mais
dialogante e parcialmente mais democrático, já não o é nos países que seguiram
o mesmo caminho a posterior.
Hoje, boa parte dos sírios, líbios e alguns poucos
egípcios arrependem-se da ousadia. Claro que as mortes registadas nas referidas
circunscrições, deveram-se ao apego egoísta e cego ao poder por partes dos
líderes – Moubarak (Egipto), Kadhafi (Líbia) e Assad (Síria), este último, ainda
disfruta o sabor da vida no comando de seu país, graças ao apoio directamente assistido
pela Federação Russa, pelo contrário, o Ocidente o derrubaria apenas com um
sopro.
Tal como Assad, os presidentes das Repúblicas da
Líbia e do Egipto, cujos juramentos similares, aquando das tomadas de posse
como chefes de Estado, incidiram na promessa de cumprir e fazer cumprir as
Constituições dos seus países, revelaram-se nuns autênticos desastres, no campo
da protecção da vida humana.
Aos actos de repúdio e decidida vontade popular de os
ver saltar do poder, ambos chefes de Estado, responderam de forma letal, causando
a morte de milhares de cidadãos. Uma postura que contrasta às políticas
económicas e sociais levadas a cabo por ambos, em seus países.
Com discernimento: Dos Santos resistiu ao
fenómeno
Pese embora as manifestações tenham início na zona norte
de África, a verdade é que tal contagiou outras paragens do continente e não
só.
Na República de Angola, por exemplo, o estadista
José Eduardo dos Santos, só se mantém ao poder desde 1979 até aqui, por ter
sabido lidar com o fenómeno de manifestações vindo do norte africano.
Como ficou cediço, as potências mundiais, ajuntadas na
NATO, passaram a fornecer apoio material ou a intervir militarmente nos países
onde as forças de defesa e segurança, sob ordens dos governantes, disparavam
letalmente contra os seus próprios cidadãos, pelo simples facto destes
manifestarem descontentamento pelos largos anos de governação de uma só pessoa.
Obviamente estando na mesma condição de Kadhafi e Moubarak,
quanto ao exercício de poder, José Eduardo dos Santos, presidente angolano, não
escapou ao fenómeno que fez cair regimes fortemente armados. Mas, diferente
destes, Dos Santos não autorizou ao linchamento dos protestantes, mas também
não os poupou.
Para desencorajar manifestações populares, as
autoridades angolanas alegadamente contrataram um bando de caenches que se
consideravam defensores da “pátria”, cujo objectivo era o de espancar todo e
qualquer cidadão que ousasse protestar pela falta de água, luz eléctrica, bem
como os longos anos de exercício de poder de José Eduardo dos Santos, etc.
Na verdade, ninguém morreu em consequência das
constantes surras, mas o país ganhou mais gentes ferida, deficientes físicos e
nalguns casos, mental. Foi uma estratégia agressiva, mas não letal.
Para o bem ou para o mal, Dos Santos se mantém no
poder. O país continua aparentemente estável e há indicadores claros de que
deixará o cadeirão máximo da República, de forma serena, antes das eleições de
2022.
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