PORTUGAL: ANGOLA É NOSSA DONA – JOSÉ DIOGO QUINTELA
Capital - Luanda |
José Diogo Quintela |
Fonte: Club-k
Lisboa - Estou surpreendido com o que li na imprensa
sobre as declarações de Hélder Amaral, enviado do CDS ao sétimo congresso
ordinário do MPLA. Há, como é evidente, um erro na transcrição. Os jornalistas
enganaram-se. Não se trata do ‘sétimo congresso ordinário do MPLA’, mas sim do
‘sétimo congresso do ordinário MPLA’. A ordinarice não é do congresso – um tipo
de assembleia perfeitamente inócua -, mas sim do partido. Os jornalistas deviam
ter mais atenção. Afinal, trata-se da reunião política mais noticiada em Angola
desde aquela em que uma dúzia de activistas se juntou para ler um livro
Sobre
as declarações propriamente ditas, não me surpreenderam. Hélder Amaral tem
razão quando diz que o CDS tem agora muitos pontos em comum com o MPLA.
Por exemplo, quer
com Paulo Portas, quer com Assunção Cristas, o CDS posiciona-se como o partido
que defende os valores da família. Ora, não há ninguém no mundo inteiro que
seja mais zeloso a transmitir valores à família do que José Eduardo dos Santos.
Transmite valores – normalmente através de escritura ou de transferência
bancária – de vários tipos. Só à filha Isabel dos Santos já transmitiu valores
que lhe permitiram adquirir participações nas maiores empresas portuguesas. É
um exemplo enquanto homem de família. Houvesse mais pais assim.
O
CDS é também o partido que defende o investimento privado. E grande parte dos
homens de negócios que investem em Portugal são membros do MPLA. É natural que
queira fazer tudo para lhes agradar.
Outros pontos em
comum são a posição conservadora em relação às drogas. O CDS é contra a
liberalização da droga e o MPLA também é conhecido por querer livrar Angola de
substâncias ilegais. Por todos os meios ao seu alcance. Há uns anos, chegou a
encher de cocaína os pneus de bicicleta de Luaty Beirão, quando este viajou
para Portugal, só para retirar de Angola mais um quilo de droga.
Aliás,
Luaty Beirão permitiu encontrar outra coincidência de pontos de vista entre CDS
e MPLA. O partido angolano criticou a greve de fome do activista com a mesma
veemência com que o CDS critica todas as greves que costuma haver em Portugal.
Manuel Monteiro,
ex-Presidente do CDS, já veio dizer que este alinhamento com o MPLA é a prova
de que o partido se rendeu aos interesses de Paulo Portas. Ora, se há alguém
que sabe o que é render-se aos interesses de Paulo Portas é Manuel Monteiro.
Foi a primeira marioneta centrista controlada por ele. Agora, passados tantos
anos, Portas não tem só um, mas sim uma trupe inteira de fantoches à sua
disposição. Pode encenar as obras completas de Shakespeare em bonifrates. Se
Portas voltasse ao jornalismo, fundava um jornal chamado ‘O Independente (menos
em assuntos relacionados com Angola)’.
As novas
oportunidades
Três dos
administradores que o Governo escolheu para a Caixa não têm habilitações
suficientes para o serem. Mostrando que a aposta na educação é uma das suas
bandeiras, o Governo vai patrocinar a formação dos três. Bizarramente, vai ser
na prestigiada escola INSEAD, em vez de ser numa lota. Armando Vara, o
administrador mais famoso que a CGD já teve, era formado em peixes.
Nomeadamente, robalos de parques de estacionamento. Espera-se que no INSEAD
também aprendam sobre turismo, para poderem administrar a participação no
empreendimento de Vale do Lobo.
Ainda
devem ter o número de telefone do KGB
Continuando uma
bonita tradição comunista de anti-semitismo, o PCP pressionou o Ministério da
Justiça para romper a parceria com forças de segurança israelitas, que dariam
formação à Polícia Judiciária sobre técnicas de interrogatório. Faz sentido.
Para quê ir lá fora buscar informação, se temos cá uma organização com décadas de
associação a regimes que eram tão bons a interrogar que não só faziam as
perguntas, como davam as próprias respostas? Na Soeiro Pereira Gomes deve haver
arquivos com essas técnicas bem detalhadas.
Estafeta
4x100 metros de aldrabice
Quão criativos têm
de ser os nadadores americanos que conseguiram inventar uma história de assalto
no Rio de Janeiro que, de tão inverosímil, se descobriu ser falsa? Uma patranha
tão descabelada que até os marginais brasileiros devem ter dito: "Nã, isto
é aldrabice. Nunca faríamos a coisa dessa maneira."
Trata-se de um
país onde um semáforo em Ipanema é mais perigoso que Cabul, em que o Senado tem
mais ladrões que a cinematografia completa do Quentin Tarantino, o Congresso
tem mais ladrões que o Senado, e em que o ex-Presidente é bandido, a Presidente
suspensa é bandida, o Presidente substituto é bandido e o futuro Presidente, se
tudo correr normalmente, será bandido.
Imaginar um
assalto que seja improvável para os padrões brasileiros de gatunagem só está ao
alcance de um grande ficcionista.
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