DISCURSO DE DOS SANTOS FOI IMPRÓPRIO PARA CARDÍACOS
O discurso proferido por José Eduardo
dos Santos foi letal para todos quantos sofram de alguma patologia cardíaca e
conheçam os reais problemas do país.
Por Antunes Zongo
Diante de uma augusta assembleia composta por visitantes
de partidos amigos, diplomatas e militantes do MPLA, reunidos de forma ordeira
e pacífica em torno do VIIº Congresso Ordinário do partido, o Presidente da
referida agremiação política, concomitantemente Presidente da República e
Comandante em Chefe das Forças Armadas Angolanas, lamentou, no passado dia
17.08.16, data que marcou o arranque dos trabalhos do Conclave, o facto de o
país registar um número considerável de “falsos empresários que recebem comissões
a troco de serviços que prestam ilegalmente a empresários estrangeiros
desonestos, ou que façam essas fortunas à custa de bens desviados do Estado, ou
mesmo roubados”.
Senhor Presidente tenha dó. Pois não pretendo faltá-lo ao
respeito. Eu admiro e prezo muito o senhor, primeiro por ser pessoa, segundo:
por ser mais velho de mim e de meu pai – que já sacrificou a vida dele,
defendendo o teu Governo contra o partido de Jonas Savimbi, a UNITA. E, de
seguida, respeito-o por ser o Presidente da República de todos nós.
Camarada Presidente, todo o angolano sabe, inclusive os
que o rodeiam, que boa parte dos empresários descritos no teu discurso, são
quadros de proa do partido dirigido por si, há 37 anos.
Por outro lado, senhor Presidente, o país só sairia a
ganhar se Vossa excelência acolhe-se meia culpa (ao invés de distribuí-las
completamente aos outros) dos insucessos decorrentes da governação, por ser o
senhor, de acordo a Constituição da República de Angola, proposta por si e
aprovada em 2010, o Titular do Poder Executivo, reservando aos demais
governantes, a mera função de seus auxiliares.
No entanto, muitos dos desvios e roubos ao erário público,
como o senhor Presidente o mencionou, ocorrem um pouco por causa do teu
beneplácito. Pois, a forma de ser e estar de uma organização depende
essencialmente de sua liderança.
A forma impune como ocorrem os roubos aos cofres do Estado
é repugnante, e a sua constância associada a insatisfação de Vossa excelência,
manifestada durante o Congresso do MPLA, sem no entanto poder frear os apetites
de tais prevaricadores, dá a sensação de que o camarada Presidente tem sido
chantageado por estes.
Se for o caso: contacta o povo, fala de suas virtudes,
reconheça seus erros, peça perdão e verá que estes alegados brutamontes, jamais
terão poder sobre si.
No caso vertente, o camarada Presidente, desconhecendo ou
fingindo que desconhece a realidade do país, disse a dado momento de seu
discurso, que o MPLA, subentende-se, o governo, “nunca abandonou o povo” e
“nunca combateu o povo”.
Olha senhor engenheiro, como defendia o saudoso Presidente
Nelson Mandela, na África do Sul, e cito: «Ninguém nasce odiando, se as pessoas
aprendem a odiar, também podem a aprender a amar». No entanto, camarada
Presidente, sou jovem e por isso acredito que ainda não aprendi a amar as
pessoas como o senhor.
Mas custa-me compreender como é que Vossa excelência diz
que o seu governo não combate o povo, quando há militares neste momento a
expulsarem violentamente os moradores do bairro Walále, no Zango II.
Em consequência disso, um menino de apenas 14 anos de
idade foi morto com um tiro na cabeça. Senhor Presidente, prefiro não me
alongar mais para não cansá-lo, pese embora, também sei, que por imperativo de
segurança, suas forças não o permitem ler ou ouvir tudo o que é dito ou escrito
sobre a tua administração.
No então, só espero que a tua segurança permita que estas
pequenas palavras cheguem ao teu conhecimento, daí, Vossa excelência faz dela o
que preferir.
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