Em entrevista ao Folha 8, Ekundi Chissolukombe (director de gabinete do
Presidente da CASA-CE), analisa o estado de Angola – e da Coligação – nos seus
mais diversos aspectos políticos, sociais e económicos. “Se o país tivesse à
testa um homem capaz e patriota, os angolanos mais desfavorecidos não estariam
a ser tratados conforme têm sido”, diz.
Fonte: F8
Por Antunes Zongo
Angola é um Estado
conhecido pela sua grandeza geográfica, populacional e por numerosos recursos
minerais em seu subsolo que, contrariamente ao que acontece no presente,
deveriam servir para mitigar os problemas da sua gente, tem sido mergulhada por
profundas crises políticas, económicas e de insegurança, onde as Forças da Ordem
e Defesa têm sido usadas para reprimir o seu próprio povo, como
“indesmentivelmente” ocorre no Zango, zona a leste de Luanda.
O que de facto as
organizações juvenis (como força motora da sociedade) dos partidos de oposição
pensam sobre a realidade, que estratégias têm para resgatar a população da
actual hecatombe? O Folha 8 entrevistou Ekundi Chissolukombe, director de
gabinete do Presidente da Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE),
Abel Chivukuvuku.
Folha 8 – Diz-se que
é natural da Jamba, Província de Cuando Cubango, mas os dados constantes no
Bilhete de Identidade atestam o contrário, porquê?
Ekundi Chissolukombe – Sim! Chamo-me Eduardo Ekundi Kassoma
Chissolukombe, os mais próximos tratam-me por Ekundi. Pese embora o meu Bilhete
de Identidade traga uma naturalidade que não é a real, hoje nos meus documentos
consta ser natural de Luanda, mas na verdade nasci na Jamba, antigo bastião da
UNITA, a 14 de Agosto de 1983. O meu pai em 1997 foi deputado a Assembleia
Nacional pela Bancada Parlamentar da UNITA, então saído do Bailundo para
Luanda, eu como parte de seu agregado fui obrigado a fazer o registo, por sinal
o meu primeiro registo dentro daquilo que é o sistema de registo nacional.
F8 – O que vos foi
dito para que não resistissem a essa imposição?
EC – Inicialmente, os meus pais queriam registar-me
com os dados reias, os serviços da 6ª Conservatória de Registo Civil informaram
que a Jamba não era reconhecida e por isso não seria possível registar-me com
esses dados, então hoje carrego isso. Só para deixar registado, sou filho de
Benicio Chissolukombe e de Verónica Chissolukombe, casados, crentes
evangélicos. Quanto a mim, também sou casado, tenho quatro filhos, sou
estudante da faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto. No entanto,
corre-me nas veias o ímpeto político fruto do meu berço, pois desde pequeno fiz
parte das estruturas da UNITA, primeiro na Alvorada depois fui para a JURA onde
permaneci até Março de 2012, e de lá saí para abraçar essa nova realidade
política que é a CASA-CE.
F8 – Quais foram as
causas que o levaram a abandonar a UNITA?
EC – O homem é um animal insaciável ao mesmo tempo
racional, que busca sempre soluções para o seu contínuo de vir, foi a vontade
de realizar Angola e os angolanos que me moveu a abraçar este novo projecto
político, que acreditem se tornará poder em 2017.
Angola sonhada por
Njinga será realizada pela CASA
F8 – Seria impossível
contribuir para a realização de Angola e dos angolanos como diz, militando na
UNITA?
EC – Não quero falar de factos passados. Tenho na
minha filosofia de vida o seguinte lema: «A força do passado não pode ser
superior à vontade de realizar o futuro». Por isso viro-me para à frente e não
para trás, hoje convicto de que o instrumento político capaz de realizar aquela
Angola sonhada por Njinga, Mandume, Ekuikui, Mutuyakevela e tantos outros,
seguida por Holden Roberto, Agostinho Neto e Jonas Savimbi, só pode ser
concretizada se todos de maneira positiva estivermos encontrados. Daí que a
Convergência Ampla para Salvação de Angola seja este instrumento capaz de unir
os extremos para a grande mudança que o país almeja.
F8 – Parece-nos que
ascendeu muito rapidamente a nível interno na CASA…
EC - Não! Eu não ascendi muito rapidamente, lembremo-nos
que a CASA foi criada em 2012, participei no Congresso Constitutivo,
trabalhamos acerrimamente para as eleições de 2012, e antes das eleições recebi
o convite para fazer parte do corpo directivo da Juventude, mas rejeitei, para
dar oportunidade a gente nova que estava aderir massivamente à CASA-CE. Se
tivesse aceite o que me estavam a propor, estaria, no meu entender, a vetar
portas àquelas pessoas ávidas de fazer política pela primeira vez.
F8 – E então a
escolha foi?
EC – Então procurei priorizar aquela gente jovem,
académica, que acreditava na mudança, a inserir-se nas nossas estruturas. E no
principio de 2014, face à morte do engenheiro Hilbert Ganga, Hoje patrono da
nossa Juventude (JPA), barbaramente assassinado pela guarda do Presidente José
Eduardo dos Santos, fui chamado para ocupar o cargo por ele deixado no
Secretariado Nacional para Organização e Mobilização. Foi a partir daí que
passei a assumir responsabilidades relevantes na CASA. Fruto do nosso trabalho,
dedicação e compromisso para com a pátria, fui indicado para dar o meu
contributo em outros sectores da nossa Organização. No entanto, foi um percurso
árduo, longo e não curto, só para dizer que fruto do que acima disse, só em
Janeiro deste ano fui indicado para assumir responsabilidades no Gabinete do
Presidente da CASA-CE.
A CASA irá continuar
mesmo depois de Chivukuvuku
F8 – Tem sido
difícil?
EC – Em princípio senti-me sem forças para
desempenhar as funções, mas quero também confessar que tornou-se fácil pelo
facto de se trabalhar para alguém que em termos de relações humanas é
excelente. Não há grandes problemas quando em causa estiver o relacionamento
entre homens, portanto, é satisfatório porque estou diante de alguém que pulsa
por Angola a 360 graus. Se tivéssemos que aumentar no nosso relógio mais duas
horas, então diríamos que o Presidente Abel trabalha 26 horas por dia, em prol
de Angola e dos angolanos. Essa entrega e dedicação do líder faz com que nós
corrêssemos na mesma velocidade, apesar de ser difícil, mas temos que estar
preparados para andarmos nesta marcha. Por outra, temos encontrado dificuldades
que, com a ajuda de alguns mais velhos que nos ladeiam, temos superado,
procuramos crescer a cada dia. Tem sido satisfatório, encorajador, motivador
estar neste espaço, por que tem-nos propiciado sentirmos a responsabilidade que
temos diante do país e dos angolanos.
O líder da JPA é
competente
F8 – É frequente
ouvir-se que sem Abel Chivukuvuku, a CASA acaba. Concorda?
EC – O que torna forte a organização sãos as
pessoas que intervêm nela, por isso há que realçar o papel do Presidente Abel,
mas importa dizer que na CASA-CE intervêm várias individualidades com
capacidades e provas dadas naquilo que é a realidade política. O Presidente Abel,
nesta altura é uníssono, o militante com qualidades bastantes e provas dadas,
melhor servido para os desafios do futuro, mas a continuidade da nossa
organização não está em causa, só para ver que vamos agora a Congresso e temos
três candidatos, e estes com certeza que darão alguma força e consistência,
então são potenciais substitutos. A meu ver, numa sociedade humana não pode
haver crise de substituição.
F8 – A juventude da
CASA, a JPA, parece estar muito letárgica. Dá a sensação de estar mais cansada do
que os mais adultos. Não concorda?
EC – Não! Em princípio eu discordo porque a JPA –
juventude da CASA-CE – tem sido uma organização presente, actuante e dinâmica.
Temos à testa um líder com capacidade e competência, o companheiro Rafael
Aguiar, que tem tido o apoio de todos nós. Também não é verdade que a nossa
organização é menos famosa, embora eu não esteja ligado à Juventude, mas temos
estado a ver as acções desempenhadas por ela. Por outro lado, a juventude é o
braço de apoio da Direcção do partido, materializa o Programa gizado pela
Direcção, se essa não existe então o Programa da Direcção não anda. Mas
queremos reconhecer que não existe trabalho árduo sem algumas contestações,
podemos aceitar que essa seja uma delas, poderá corrigir-se com o tempo, mas é
pacífico.
F8 – Então está a
dizer que a actual postura da JPA é do agrado da Direcção da Coligação?
EC – Eu quero deixar claro, embora não esteja nas
estruturas da juventude como já disse, mas como jovem sinto aquilo que é a
acção da nossa organização juvenil. A JPA tem tido actuação positiva, noutros
momentos ou lugares podemos julgar que o passo esteja um bocadinho retraído,
mas estamos num bom caminho, rumo aos objectivos que pretendemos em 2017.
F8 – A CASA realizará
o seu IIº Congresso Ordinário e, de acordo com as nossas fontes, alguns
militantes contestam o facto de a JPA não realizar nenhum Conclave até ao
momento…
EC – Como sabe, nós somos uma organização que fez o
Congresso Constitutivo há quatro anos, pontualmente estamos também a realizar o
segundo Congresso Ordinário e somos uma Coligação, como tal, funcionamos até de
maneira suis generis. Temos estruturas de partidos, e as Coligações
propriamente ditas não têm acção como a CASA-CE. Vamos agora a Congresso, vamos
transformar-nos em Partido e depois vocês verão os Congressos das nossas
organizações de massa, nomeadamente a JPA e a MPA.
F8 – Como jovem,
nunca pensou em liderar a JPA?
EC – Quero lembrar e fazer fé nas palavras do nosso
Presidente que a juventude tem que sonhar. Estamos na CASA-CE e o meu sonho
primário passa por realizar Angola e os angolanos, e eu tenho dito: «Temos um
legado importantíssimo, que nos foi deixado pelos mais velhos Holden Roberto,
Agostinho Neto e Jonas Savimbi, se o tivéssemos percebido teríamos uma
sociedade saudável, que constitui os arquétipos da Sociedade angolana,
desviados pelo poder actual e cito: Liberdade e Terra – como dizia o mais velho
Holden; O mais importante é resolver os problemas do povo – como dizia
Agostinho Neto; O angolano em primeiro lugar – como dizia o mais velho Jonas,
nós teríamos um modelo de sociedade positivo que se poderia aplicar em qualquer
parte do globo. São três factores fundamentais: a um cidadão que é-lhe dada a
liberdade e terra, a um cidadão que lhe é resolvido os seus problemas básicos e
a um cidadão que lhe é colocado a oportunidade de ser o primeiro na pátria do
seu nascimento, então teríamos as soluções r satisfatórias para se poder
realizar. É este o nosso engajamento, a nossa luta diária e por isso é que
estamos na CASA-CE. Logo, pessoalmente, é óbvio que eu tenho ambições que,
claro, não passam por regredir, passam sempre em crescer e somar mais. Lá onde
houver oportunidades estarei, pronto para servir Angola e os angolanos, não
importa se a nível da juventude ou do partido, mas estarei sempre disponível
para levar a nossa luta avante para a resolver os problemas básicos do nosso
povo.
Dos Santos não pode
anunciar reformas no seu declínio vital
F8 – Realizar Angola
é dito por todos os políticos. O mais recente a dizê-lo foi o Presidente da
República, José Eduardo dos Santos, no VII Congresso do MPLA…
EC – Na filosofia umbundo, já que me considero
Bailundo fruto da minha origem, há um princípio que diz: OKU LI MAMA AKO LI
MAMA CALHA LAMA KOMETI, trazendo para a nossa realidade quer dizer que não
podemos esperar laranjas do embondeiro; o que produz laranja é só mesmo a
laranjeira, uma realidade com que nos acostumamos do MPLA, é a permanente
mentira, e o incumprimento das suas promessas. Volvidos 40 anos os angolanos
continuam a viver no sonho. Não é o senhor José Eduardo dos Santos no declínio
do seu exercício vital, predispor-se a inverter o quadro, com reformas
anunciadas. No meu entender, as reformas só seriam possíveis se começassem por
José Eduardo dos Santos. Enquanto Dos Santos for o autor das reformas e não ele
o reformado, vamos continuar a viver na esperança, mas também não vamos mais
alargar o período, temos eleições em 2017, a CASA-CE vai ser poder, nós vamos
reformar o Estado para realizar Angola e os angolanos.
F8 – Quais são os
maiores problemas da população angolana?
EC – De maneira geral, o país está mergulhado numa
hecatombe, numa crise social, política e económica, todos os sectores da vida
estão em declínio, estamos a caminhar para um colapso, onde falta tudo, e se
enumerarmos A ou B corremos o risco de deixar zonas essenciais, não é por ser
pessimista, mas o país não tem nenhum sector que tenha algum indicativo
positivo. Um país que não consegue manter a sua economia e que os preços da
cesta básica sobem vertiginosamente, os bens de primeira necessidade dobraram
senão mesmo triplicaram todos os dias, é porque está desgovernado. Se fossem
responsáveis e patriotas, já ter-se-iam demitido em bloco.
Os mutilados de
guerra também são Arquitectos da Paz
F8 – Está a acusar os
governantes angolanos de antipatriotismo?
EC – Sim.
F8 – O Processo de Reconciliação
Nacional em curso não contraria a sua afirmação?
EC – No Processo de Reconciliação Nacional somos
todos partes. Tenho ouvido muitas vezes um spot publicitário na Comunicação
Social Pública, onde reiteram a figura de José Eduardo dos Santos como o
Arquitecto da Paz. Tenho-me perguntado: quais são os caminhos que nos levaram à
Paz? Nesta grande obra que é a Paz só tivemos um arquitecto? Alguns até pagaram
com as suas vidas o preço da Paz, estes não foram arquitectos? Outros são
órfãos, viúvas e mutilados, também não são arquitectos? No processo da
Reconciliação Nacional temos de intervir de forma paritária, sem apontarmo-nos
das agruras do passados, se alguém considerar que reconciliação é um perdão
unilateral, então vamos continuar assistir a um processo longe do seu fim.
Temos é que doravante olharmo-nos como angolanos, resgatar o nosso país das
mágoas da guerra para que as gerações vindouras tenham segurança no seu futuro.
F8 – Efectivos das
FAA foram destacados para o Zango, onde estão a proceder demolições compulsivas
de residências das populações. De lá, surgem relatos de espancamentos, violação
sexual, roubos e assassinatos. O que se oferece dizer sobre isso?
EC – Sei que recentemente morreu nesta acção ilegal
e violenta das Forças Armadas Angolanas (FAA) o adolescente Rufino António, de
apenas 14 anos, pelo qual endereço à família enlutada os meus sentimentos de
pesar, curvando-me diante da alma deste angolano que com certeza muito daria
para o futuro do país. E digo mais: o que ocorreu com este pequeno é normal em
Estados Ditatoriais como é o nosso, onde as medidas repressivas contra a
população são desmedidas, favorecendo a defesa do ditador, no caso o José
Eduardo dos Santos. Uns dizem que se trata de expropriação, outros dizem ser
despejos, tanto no 1º caso ou no outro, obedecem-se regraras para os efectivar,
fala-se que foram erguidas casas em zonas fundiárias, segundo a informação que
tenho, foram demolidas 600 senão mesmo 700 residências. As casas não foram
erguidas de um dia para outro. Para construirmos uma casa pode levar-nos três a
quatro meses, e se tivermos em conta o número avultado de residências
demolidas, facilmente vamos perceber que levou-se muito tempo, então aonde
andaram as autoridades administrativas? Mas este até é um falso problema, eu
quero culpar Eduardo dos Santos pela morte deste miúdo e quero ainda
responsabiliza-lo por todos os males que assombram o país e pela impunidade
pela qual tem revestido os infractores em Angola. Se o país tivesse à testa um
homem capaz e patriota, os angolanos mais desfavorecidos não estariam a ser
tratados conforme têm sido. Isso é sinal de que o Presidente da República não
tem conseguido, ou não quer, ser o garante da estabilidade e da Paz que custou
esforços e sangue.
F8 – E por fim…
EC – Para terminar, já que está em curso o Registo
Eleitoral, apelo a todos os jovens para que adiram massivamente a este
processo, não se inibam! Convidem todos: tias, mamãs, primos, irmãos, colegas,
amigos, etc… para aderirem, porque é o primeiro passo para que possamos operar
a Mudança em 2017.
0 comentários: