A MUDANÇA EM ANGOLA É UM DEVER EXCLUSIVO DOS ANGOLANOS – DIZ CHIVUKUVUKU À SIC
O presidente da terceira maior força política angolana - CASA-CE, Abel
Epalanga Chivukuvuku, está agora em Portugal, de onde concedeu uma suculenta entrevista
à SIC, na qual descreveu o estadista angolano como "autoritário" e defendeu que
as transformações políticas em Angola são da responsabilidade exclusiva de seus
filhos.
Fonte: SIC & Disputas Políticas
SIC: Sobre as eleições que se aproximam, o angolano Luaty Beirão disse
ao Parlamento europeu, «não ter grandes expectativas porque as eleições em Angola servem de
fachada que legitima o regime aos olhos da comunidade internacional», também faz a
mesma leitura, senhor Abel?
Abel Chivukuvuku (AC): A natureza do
regime actual é fundamentalmente antidemocrático, portanto, de caracter
autoritário. No entanto, nós temos que ter fé, temos que acreditar que pelo
nosso papel conjunto da sociedade civil, partidos políticos e de toda a
sociedade, podemos forçar as transformações que levem a termos em Angola,
eleições livres, justas e transparentes, este é o objectivo. Temos noção de que
há muitas lacunas, começando pelo problema da necessidade de alteração de
alguns elementos da legislação eleitoral, garantir a liberdade de opção a todos
os cidadãos, garantir a abertura da comunicação pública a todos os cidadãos e
talvez todos juntos possamos forçar para que desta vez, tenhamos eleições
livres, justas e transparentes.
“Temos de forçar
porque as mudanças não ocorrem de forma fortuita”
SIC: Vê a necessidade de observadores internacionais às eleições?
AC: Os observadores são um factor secundário,
porque os observadores normalmente surgem no momento das eleições, agora as
eleições é um processo e vem desde o início do registo, criação de um ambiente político
nacional de abertura e positivo, abordagem de um quadro legislativo adequado,
portanto, é todo um processo…
SIC: Como é que isso se concretiza?
AC: É por isso que tem que haver a pressão das
forças políticas e das forças sociais para que todas essas transformações
ocorram.
SIC: Mas isso tem sido feito pelo activista Luaty Beirão e o grupo em
que ele se integra, mas para já sem resultado.
AC: Não só isso, nós temos no âmbito das forças
políticas concertação dos partidos da oposição para acção conjunta legislativa,
visando essa transformação e temos que reconhecer há alguns avanços, mas temos
que forçar as transformações. As transformações nas sociedades não acontecem de
forma fortuita, a qualidade dos processos políticos, sociais e económicos de
cada sociedade é directamente proporcional a qualidade da participação é por
isso que eu tenho fé que nós podemos todos juntos forçar para que este ano
tenhamos eleições livres, justas e transparentes. Há que adoptar que o próprio presidente
da República que no passado nunca cumpriu com estes pressupostos, também
anunciou no dia 17 de outubro (2016) que é sua intensão que desta vez,
finalmente, o resultado eleitoral reflicta a vontade do cidadão, portanto, cabe
a nós angolanos fazer com que esta natureza anti-cidadania, esta natureza de
vergar as liberdades e direitos dos cidadãos que caracteriza actualmente o
governo no poder sejam ultrapassados e forçarmos a mudança para que de facto
2017 seja um ano de viragem e eu acredito que podemos criar as condições para
tais de modo a instaurarmos em Angola um novo sistema político, uma nova
mentalidade de governação e tenha o cidadão angolano como o centro de factor
fundamental da governação em Angola.
“O problema
passa pela saída do MPLA do poder”
SIC: O Abel acha que os problemas em Angola resolvem-se apenas com a
saída de José Eduardo dos Santos?
AC: Não tem nada a ver com a saída de José
Eduardo dos Santos, tem a ver com mudança e mudança não envolve uma pessoa, mudança
envolve fundamentalmente um quadro de consciência e modelo de governação diferente.
Uma forma de abordagem das reformas institucionais necessária.
SIC: Mais isso implica a saída de José Eduardo dos Santos?
AC: Não só a saída de José Eduardo dos Santos,
mas a saída do MPLA da governação, não é uma pessoa é um sistema, obviamente
encarnado pelo presidente que é o José Eduardo dos Santos que está há mais de
40 anos no poder, não é verdade? ... de forma totalitária até 1992 e de forma
autoritária desde então, mas o que nós precisamos é uma mudança da sociedade,
não é uma mudança de uma pessoa.
“Cabe aos
angolanos dinamizar o processo das transformações (mudanças)”
SIC: Há dias o Jornal de Angola e a TPA lançaram críticas a Portugal e a
imprensa de cá, como é que vê a relação entre Portugal e Angola?
AC: Portugal e Angola têm a obrigação de criar
um quadro maturo para a relação entre os dois países. Temos uma história comum,
temos laços de fraternidade, laços familiares e culturais que deviam propiciar
o esteio para as relações mais profundas e positivas, no entanto, surge o
factor valores: em quê que acreditamos como base para organização da sociedade
e tem sido essa dicotomia nos valores, na interpretação dos fundamentos onde
sai a tendência de tenções cíclicas e isso não vai ser ultrapassado enquanto
não aceitarmos em Angola um estado verdadeiramente democrático, temos ainda um
estado em transição para a democracia.
SIC: Esteve de resto reunido com parlamentares do PS, PSD e CDS, acha
que Portugal devia envolver-se mais nos assuntos de Angola?
AC: Eu acredito fundamentalmente que a responsabilidade
para as transformações que devem ocorrer em Angola é dos angolanos. Aos angolanos
cabe dinamizar os processos que levem as transformações necessárias. Ora,
estamos num mundo globalizado e Angola não está ausente de todo este contexto,
por isso, toda a contribuição positiva de qualquer actor que internacional é
necessário e muito mais no caso de Portugal com o qual temos interesses recíprocos
de que um ambiente amadurecido de democracia, boa governação e gestação
transparente e de rigor em Angola mais favoreceria a relação entre os dois
países, sobretudo no domínio económico e financeiro. Temos Angola ainda um
quadro de mau ambiente de negócio, dificilmente favorece a relação entre os
dois países, quando nós próprios não acabamos com a burocracia, com a própria
corrupção, os desvios com tudo aquilo que cria o esteio para o mau ambiente de
negocio, e é nossa responsabilidade, nós angolanos, fazermos as reformas
necessárias para que Angola seja um bom espaço.
Não tem valor nenhum Angola ser um país
potencialmente rico, mas com a maioria da população viverem miséria, para quê
que vale isso? Afinal faz sentido sermos um país potencialmente rico, mas que
realize o seu cidadão que é o centro da realização do país.
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