SOARES É FIXE? DIZEM QUE SIM
Paulo Baldaia |
Fonte: DN
A vida de Mário Soares é um exemplo para
todos nós. Não precisamos de gostar dele para perceber que ele é a figura maior
da democracia portuguesa. E a maior homenagem a Soares nem sequer é ter votado
nele. É ter aprendido com ele a liberdade de discordar e a liberdade de
decidir.
É nesta liberdade que cabemos todos, os que
nunca votaram nele e os que sempre o fizerem, mais os que umas vezes sim e
outras não. A grandeza de Mário Soares é a de ter sido capaz de não ser
património de ninguém. Na hora da despedida, Soares não é o socialista mais
importante, é o português mais importante.
Sim, é um direito de quem veio a correr para
Portugal com uma mão à frente e outra atrás, por causa da descolonização, ver
em Soares a figura maior da volta que a vida deles deu. É também um direito dos
militantes do Partido Comunista verem no antigo líder do PS o rosto de quem
impediu o avanço de uma revolução sonhada. Sabem uns e outros que Soares também
foi acusado por Angola de estar ao lado da Unita, o partido em que se revê a
maioria dos que foram obrigados a sair, e acusado pela direita de ter apoiado a
coligação parlamentar com os comunistas. A coerência de Soares é a de nunca ter
abdicado da liberdade de ser politicamente incorreto, porque só dessa forma
pôde estar sempre à frente do seu tempo.
António Costa viu muito bem o que quereria
Soares a propósito da visita à Índia. Não houvesse o exemplo do próprio Soares,
que não cancelou uma visita de Estado quando o filho, João Soares, teve um
acidente em Angola, bastava saber quem foi Mário Soares.
Soares é fixe porque viveu tempo suficiente
para nos garantir uma vida em liberdade. Fazer como ele faria ou fazer
exatamente o contrário. A verdade é que todos sabemos que os que criticam Costa
por não ter regressado são exatamente os mesmos que o iriam criticar por ter
anulado uma visita de Estado à Índia. Soares é fixe porque, com o seu exemplo,
permitiu a António Costa perceber que acima da vontade pessoal e do mediatismo
existe o interesse nacional.
0 comentários: