“INTOLERÂNCIA POLÍTICA É O NOSSO PÃO DIÁRIO NO CUANDO CUBANGO” – ADRIANO SAPIÑLA

Adriano Sapiñala -secretário-provincial da UNITA no Cuando Cubango
Entrevista a Adriano Sapiñala. O actual secretário-provincial da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) no Cuando Cubango, é um jovem jurista, descrito como um dos mais brilhantes e influentes membros da nova geração do Galo Negro.


Por Redacção


Adriano Sapiñala, carinhosamente tratado por “Didi”, é apontado por alguns como o futuro presidente do segundo maior Partido Político angolano. Nesta longa entrevista que por economia de espaço decidimos dividi-la em duas partes, o jovem defende ser “insultuoso” comparar a CASA-CE à UNITA. 

Siga a entrevista a baixo. 



DP: Quem é o Adriano Sabiñala?


Adriano Sapiñala (AS): Adriano Sapinãla é um jovem Jurista de 39 anos de idade, casado, pai e militante da UNITA, com uma carreira política activa que iniciou em 1996 ou seja - há precisamente 20 anos. Nasci na cidade do Cuito/ Bié e cresci nas matas da Província do Cuando Cubango numa vida dividida entre a Jamba, Rivungo, Kapakala, Delta-Wefu e mais tarde na Província do Huambo.


DP: Vaticina-se que o simples facto de ser filho de um dos 12 indivíduos fundadores da UNITA cheira a prestígio e gera oportunidades. Procede? 


AS: Ser filho de um dos fundadores da UNITA é tão normal quanto ser filho de um outro pai à medida que eu tenho uma história à volta deste fenómeno que foi ter-me separado (com apenas um ano) dos meus pais para viver com os meus avós, com os quais, vivi até aos dez anos de idade. Por ironia do destino, eu nunca vivi com o meu pai como tal, porque sempre fiquei com a família da minha mãe e só mais tarde com a minha mãe que na altura já se tinha separado do meu pai. Este facto fez-me passar dos dez aos 19 anos a viver com o meu pai de criação de quem tenho muita estima, admiração, carinho, amor e até um filho com o seu nome. No entanto, dadas circunstâncias daquela altura, eu só viria a passar algumas noites em casa do meu pai biológico já aos 22 anos de idade e na época eu já era militar e oficial capitão da ex-FALA, pelo que, tenho o meu pai como alguém de grande referência, meu amigo, colega da Direcção do nosso Partido e um Património Nacional se considerar a sua dimensão política.


“Não uso o nome de meu pai para não confundir as pessoas”


DP: Está a dizer que o teu destaque na UNITA nada tem a ver com o historial de teu pai, na organização?



AS: Como disse a começar, a minha carreira política na UNITA já leva 20 anos, aos quais se inclui uma carreira militar pelo que não há aqui nada sem esforço próprio, muito menos seria pelo meu pai à medida que não sou o único filho do nosso pai, mas por livre escolha optei em fazer política e tenho uma carreira própria; aliás se reparares, nem uso o nome do meu pai para não confundir as pessoas com o que faço. Só para exemplificar, o meu amigo e também jornalista Solombe, só recentemente se apercebeu que sou filho de Chiwale, aquando do aniversário do velho. Porém, é um sinal claro de que a nossa estratégia de não usar o nome do meu pai tem dado certo, e, como deves calcular, o mano Solombe conhece o meu pai há dezenas de anos e a mim também, mas nem com isso sabia que eu tivesse ligação consanguínea com o velho.


DP: Mas por ser rebento de Samuel Chiwale, um dos mais refinados membros da UNITA desde o tempo de Jonas Savimbi, estudou nas melhores escolas controladas pelo partido?


AS: Não! As escolas onde estudamos nas matas eram iguais e as mesmas para todos, não havia discriminação do tipo escolas dos filhos dos dirigentes e escolas para os outros. Na UNITA nunca assistimos a discriminação de género, até porque vivíamos num sistema revolucionário e nas revoluções os dirigentes vivem com e como o povo.


DP: Aprendeu a lavar, limpar e passar ferro às roupas ou o pai sempre colocou empregada à disposição dos filhos?


AS: Nós nunca tivemos empregadas, sempre tivemos que fazer nós mesmos os trabalhos domésticos e por isso cozinho, lavo roupa, limpo chão, engomo a minha roupa sem problemas nenhuns porque a minha mãe ensinou-me tudo no tempo certo. Hoje sou casado, mas continuo a fazer isso sempre que posso.


“A UNITA é o único partido que tem várias etnias em sua direcção


DP: Há fortes convicções no seio de uma franja populacional de que a UNITA é uma organização tribal e o caso de Mfuca Muzemba sempre surge para justificar a acusação. O que acha de tudo isso?


AS: É uma falsa acusação até porque a UNITA é o único Partido Político angolano com destaque de múltiplas tribos na sua Direcção, aliás, o meu amigo Mfuca Muzemba é prova disso; ele foi a secretário-geral da JURA num congresso em que eu também concorri e mais dois companheiros Kimbundus e ganhou o Mfuca que é Bakongo, então isso não passa de um falso problema. No momento da eleição dele (Mfuca) não acusaram a UNITA de tribalista, mas depois do deslize que teve já se quer falar de tribalismo, isso é pura manifestação de má-fé.


“Futuro de Mfuca depende dele mesmo”


DP: Alcides Sakala, porta-voz da UNITA, garantiu que a suspensão de Mfuca Muzemba foi levantada, consegue adivinhar o futuro de Mfuca, no partido?


AS: O futuro político do meu amigo Mfuca só depende dele mesmo e ele já teve a prova da UNITA de que pode caminhar e atingir grandes patamares, agora com a sua suspensão levantada ele sabe como andar para agigantar a sua carreira política na UNITA, partido pelo qual ele é deputado.


DP: Falemos de vosso presidente. Isaías Samakuva está há mais ou menos 16 anos à frente da UNITA, não acha ter chegado a hora de ele passar o testemunho?


AS: O Presidente Samakuva não está há 16 anos a liderar a UNITA, mas sim há 13 anos e ele está a fazer um verdadeiro exercício de passar o testemunho geracional que culminará com certeza com a transição Presidencial também, e acho que está a fazê-lo acautelando todos os factores que estás transições exigem.


DP: Fala-se que o doutor Isaías Samakuva transformou o Conselho Nacional de Jurisdição num organismo de defesa pessoal, pois apontasse os casos de Abel Chivukuvuku, Lukamba Gato, Mfuca Muzemba e o de Kamalata Numa, alegadamente mal julgados. O que se oferece a dizer?


AS: O Conselho Nacional de Jurisdição é um órgão do Partido e não uma instituição do presidente Isaías Samakuva. O órgão rege-se por regulamentos próprios, no entanto, é falso e até injusto dizer isso.


“UNITA nunca combateu o mano Abel”


DP: Quanto a Abel Chivukuvuku, a administração de Isaías Samakuva o acusava de traidor, mas vê-se a avalanche populacional à volta da organização política que ele criou. Não acha que se não o combatessem como o fizeram e o permitissem ser presidente da UNITA, o partido estaria em melhor posição?


AS: Primeiro quero aclarar que ninguém combateu o mano Abel Chivukuvuku na UNITA, isso já é um exercício de pirotecninia para ludibriar a opinião pública. O mano Abel concorreu em 2007 à Presidência da UNITA e não foi eleito, este facto não quer dizer um combate contra ele, simplesmente não convenceu os congressistas e em democracia é assim mesmo, quanto a nova escolha dele, desejo apenas boa sorte e bom trabalho porque há coisas incomparáveis: pois é uma aventura comparar a CASA-CE e a UNITA.


DP: Como está o Galo Negro, hoje?


AS: O Galo Negro está muito saudável e recomenda-se, até porque é do domínio público de que a UNITA é a única alternativa viável e credível ao MPLA e só por isso está permanentemente ao lado do povo, a levar a mensagem de esperança, de reconciliação nacional e de um futuro melhor para Angola e todo seu povo.


DP: Qual foi a sensação ao ser nomeado para o tão prestigiado cargo de secretário provincial do Cuando Cubango?


AS: A minha nomeação para Secretário Provincial do Cuando Cubango veio apenas para o cumprimento de mais uma missão partidária e tudo fruto do trabalho que temos desenvolvido nestes 20 anos da minha carreira política, pelo que encarei-a como mais um desafio e temos estado a fazer tudo para correspondermos positivamente a esta confiança que o Partido e o presidente depositaram em mim.


“A intolerância política é o nosso pão diário”


DP: A UNITA queixa-se bastante sobre a alegada intolerância política. Qual tem sido o clima político no Cuando Cubango?



AS: No Cuando Cubango a intolerância política tem sido o nosso pão de cada dia à medida que o MPLA fez dela a sua única bandeira para contrapor as nossas acções, mas isso não impede de levarmos avante a nossa missão. Desde que estou lá, são vários os cenários de intolerância política que ocorreram a nível da Província, mas têm servido mesmo de base para cada vez mais fortalecermos a UNITA.


DP: Arriscaria em adivinhar quantos deputados a agora considerada «Terras do progresso» (Cuando Cubango) dará à UNITA, face as Eleições Gerais aprazadas para 2017?


AS: Não estamos preocupados com o número de Deputados a conseguir nas eleições do próximo ano, nós UNITA queremos ganhar as eleições e por isso o Cuando Cubango está engajado neste desafio de ganhar as eleições de 2017.

DP: Falemos um pouco mais sobre as eleições que se avizinham. Qual poderá ser o motivo da pouca adesão dos cidadãos aos postos de registo eleitoral?


AS: A falta de confiança ao processo tem sido o maior motivo para a pouca aderência da população aos postos de registo eleitoral.

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