A JUSTIFICATIVA DA UNITA POR TER VOTADO CONTRA O OGE NA VOZ DE RAÚL DANDA
“O Orçamento que o Grupo Parlamentar do MPLA acaba de aprovar, com a sua
maioria que vence pelo voto democrático – é certo – mas que tem provado que
muito raramente tem razão, põe o país a dançar economicamente na corda bamba,
ao colocar a dívida nos limites de insustentabilidade onde V. Exªs a colocam. O
Estado resolveu expandir os níveis de endividamento, e prevê gastar 31,64% do
total das despesas apenas no pagamento da dívida, tanto externa como interna.
O
Stock da dívida do Governo deverá ser de 62.8 mil milhões de dólares. Mesmo os
iluminados dessa bancada parlamentar – caso ainda os haja – saberão que essa tendência
de empurrar a dívida para lá dos 75% do PIB, até final deste ano, de acordo com
as previsões, comporta um risco enormíssimo, sobretudo quando se trata de um
país como o nosso, dependente praticamente de um único bem de exportação que é
o petróleo, com todos os danos que já nos fartámos de enumerar, aqui nesta
casa.
O Titular do Poder Executivo e seus auxiliares terão seguramente ouvido
isso do Fundo Monetário Internacional. Ora, se o Governo do MPLA não está
preocupado com isso, nós UNITA e os angolanos, em geral, estamos profundamente
preocupados. Por isso, o nosso voto foi “Contra”.
Este Orçamento estabelece uma distribuição de despesa por função onde o
sector social fica com 38,03% da despesa, o sector dos Serviços Públicos Gerais
detém 24,26%, o Sector da Defesa, Segurança e Ordem Pública 20,05% e na cauda
vem o sector Económico com apenas 17,66% da despesa. Ora isso dificilmente
alinhará no mesmo diapasão com a prioridade que se diz dar ao objectivo da
diversificação da economia. É para fazer a diversificação ou é apenas conversa
para boi dormir? Com essas mentiras orçamentais, onde os dados contrariam os
objectivos anunciados, como é que a UNITA não iria votar “Contra”?
Quando V. Exªs dizem que as coisas tendem a melhorar, que estamos a sair
da crise “Tcho y tcho”, “malembe, malembe” (ou seja, devagar e bem), a
realidade conta outra história. Bem diferente. Só aqui em Luanda, e nos 12
meses anteriores a Novembro deste ano, os preços subiram mais de 41%, renovando
máximos históricos. Só de Outubro a Novembro, a subida nos preços foi na ordem
dos 2,13%. Quem o afirma é o Instituto Nacional de Estatística. Mesmo com a
fama de “cidade mais cara do mundo”, assim também já não!!! Quando perguntámos
ao Executivo se os salários dos trabalhadores vão ser actualizados, em função
da subida drástica da inflação; da súbita vertiginosa dos preços; a resposta é:
“Ah porque tal, porque tal; vão ser actualizados mas não se sabe quando nem em
que medida”.
Isso assim está mesmo bom? Como é que a UNITA não vota “Contra” um
Orçamento nestas condições? Dentro de 8 meses, o país
terá eleições legislativas, o que se constituirá num dos pontos mais marcantes
de 2017. Seria bom e recomendável que neste OGE viessem espelhadas as despesas
relativas a todo o processo eleitoral, de modo a que as mesmas estivessem bem
visíveis e fossem facilmente identificadas.
Mas o Executivo não faz assim.
Limita-se a uma única referência explícita onde indica o que chama de “Programa
de Apoio a Processos Eleitorais, com uma dotação de 241.7 milhões de Kwanzas.
Grande parte da verba fica nos cofres do Presidente da República, a fazer não
se sabe o quê. O resto, onde está ninguém sabe. Oko! Nem sabemos onde foram
buscar este espírito de esconder as coisas. E assim a UNITA não iria votar
“Contra”?
Estamos sempre a falar de “garantias soberanas”, boas para acudir
situações financeiras complicadas, quando a necessidade se apresenta, mas desde
que isso ocorra com a transparência que uma boa governação exigiria. Ora, aqui
em Angola não há transparência muito menos boa governação. Primeiro, o nosso
dinheiro foi para o Banco Espírito Santo Angola, de triste memória. Enquanto em
Portugal o assunto ainda hoje é falado, no sentido de se saber quem se
apropriou ilicitamente do dinheiro do Banco, aqui ficamos todos como se
fôssemos gregos e chineses: ninguém parece entender ninguém.
O Grupo
Parlamentar da UNITA solicitou a realização de um inquérito parlamentar para
que os angolanos soubessem, todos, o que realmente aconteceu com o BESA e a
resposta foi: “não metas o nariz mesmo onde és chamado”. O BPC está agora em
completa falência. Nas redes sociais pululam os nomes de todas as “Djamilas”
que limparam os cofres do BPC, mas nada lhes acontece; a Procuradoria-Geral da
República não se mexe; e nem mesmo são obrigadas a devolver o dinheiro que
subtraem. Aqui se entende por que razão foi recusada a proposta da UNITA de
incluir, na Lei da Amnistia dos 40 anos de Independência, a referência sobre a
obrigatoriedade de devolução do produto dos desvios. E enquanto eles desviam o
nosso dinheiro, nós tiramos mais dinheiro para tapar os buracos que deixam,
porque é preciso recapitalizar esses bancos. Isso assim está bom? E ainda nos
pedem para votar a favor!...
As verbas são sempre alocadas para, como dizem, “resolver os problemas do Povo”. Mas sempre que anunciam aumento de megawatts, a luz “pah!” falta. Até parece feitiço.
As verbas são sempre alocadas para, como dizem, “resolver os problemas do Povo”. Mas sempre que anunciam aumento de megawatts, a luz “pah!” falta. Até parece feitiço.
Os apagões em Luanda aumentaram
consideravelmente, como se estivéssemos a fazer “kixikila” com a energia
eléctrica. Mas também estou mesmo a falar disso porquê, se mesmo quando o
Presidente da República está aqui a dirigir-se à Nação a luz “baza”?
Põem verbas no Orçamento para as estradas, mas parece que no país anda
aberto um concurso para ver quem consegue ter mais buracos nas estradas. E
Cabinda deve estar a ganhar, talvez porque o país começa lá. E o nosso
dinheiro, sempre a ir.... Com isso assim, a UNITA não vota “Contra”?
Cada vez que queremos fiscalizar como o Executivo está a gastar o nosso
dinheiro, em respeito não só à Constituição, mas também à ética, aos princípios
da honestidade, da transparência, até para mostrar que há um esforçozinho para
buscar a boa governação, as barreiras sobem mais altas, qual Muro de Berlim.
“Não fiscaliza; aprova só que eu próprio me fiscalizo”! Que alternativa os senhores
deixaram à UNITA que não fosse votar “Contra”?”.
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